DOMINAÇÃO FINANCEIRA, CONSUMO DE CRÉDITO E EMPRÉSTIMO CONSIGNADO: UMA ANÁLISE DAS ESTRATÉGIAS DISCURSIVAS DE FORNECEDORES DE CRÉDITO
Resumo
Este trabalho direciona esforços no entendimento do consumo de crédito como reprodutor de Dominação Financeira, tendo em vista a posição que o consumo assumiu ao longo das últimas décadas como grande operador da economia e da sociedade. Para tanto, o objetivo foi realizar uma análise da construção discursiva dos fornecedores de empréstimo consignado à luz da Análise Crítica do Discurso faircloughiana. A fundamentação teórica se baseia nas conexões entre Sociedade de Consumo, Dominação Financeira, Consumo de Crédito e Empréstimo Consignado. O trabalho de campo foi realizado com fornecedores de crédito, identificando-se três principais estratégias discursivas: a socialização do discurso; a simulação discursiva e a comodificação do discurso. Os resultados indicam que a lógica desse mercado, por vezes, reforça as barreiras ideológicas e a mercantilização da pobreza, assim como propicia lucros potencialmente maiores às organizações. As práticas de marketing pelas empresas nesse contexto indicam uma preferência pela performance do negócio em detrimento de uma relação mais justa com os consumidores. Nesse sentido, o trabalho descortina uma série de reflexões que contribuem para o avanço no entendimento das questões a articulação entre Dominação Financeira, Consumo de Crédito e Empréstimo Consignado.
Palavras-chave
Referências
ALVES, L. M.; WILSON, S. T. The effects of loneliness on telemarketing fraud vulnerability among older adults. Journal of Elder Abuse & Neglect, v. 20, n. 1, p. 63–85, 2008.
ARNOULD, E.; THOMPSON, C. J. Consumer culture theory (CCT): twenty years of research. Journal of Consumer Research, v. 31, 2005.
ARNOULD, E.; THOMPSON, C. J. Consumer culture theory: ten years gone (and beyond). In: THYRAFF, A.; MURRAY, J. B.; BELK, R. W. (Org.). Research in consumer behavior. Bingley, UK: Emerald Group Publishing, 2015. p. 1–21.
ARNOULD, E.; THOMPSON, C. J. Consumer culture theory (and we really mean): dilemmas and opportunities posed by an academic branding strategy. In: BELK, R. W.; SHERRY JR., J. F. (Org.). Consumer culture theory. Oxford: Elsevier, 2007.
ASKEGAARD, S. Consumer culture theory: neo-liberalism's useful idiots'? Marketing Theory, v. 14, n. 4, p. 507–511, 2014.
BACEN – Banco Central do Brasil. Cartilha: empréstimo consignado. Brasília, 2017.
BADOT, O.; COVA, B. The myopia of new marketing panaceas: the case for rebuilding our discipline. Journal of Marketing Management, v. 24, n. 1/2, p. 205–219, 2008.
Bank of American Fork. Bank of American Fork encourages age-friendly banking to combat elder financial abuse, 2014. Disponível em: http://www.prnewswire.com/news-releases/bank-of-american-fork-encourages-age-friendly-banking-to-combat-elder-financial-abuse-263837491.html. Acesso em: 27 mar. 2018.
BAUER, M. W.; GASKELL, G. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Rio de Janeiro: Vozes, 2003.
BAUES, C. S. Velhos consumidores, novos (super) endividados? Impacto do crédito consignado. In: BAUES, C. S. (Ed.). Envelhecimento e subjetividade: desafios para uma cultura de compromisso social. Brasília: CFP, 2008. p. 196.
BAUMAN, Z. Vida para consumo. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.
BERNTHAL, M. J.; CROCKETT, D.; ROSE, R. L. Credit cards as lifestyle facilitators. Journal of Consumer Research, v. 32, n. 1, p. 130–145, 2005.
BIROCHI, R.; POZZEBON, M. Improving financial inclusion: towards a critical financial education framework. RAE – Revista de Administração de Empresas, v. 56, n. 3, p. 266–287, 2016.
BORTOLUZZI, D. A. et al. Aspectos do endividamento das famílias brasileiras no período de 2011–2014. Perspectiva, v. 39, n. 146, p. 111–124, 2015.
BRANDÃO, H. H. N. Introdução à análise do discurso. Campinas, SP: Editora Unicamp, 2012.
BRASIL. Instrução Normativa INSS n. 28, de 16 de maio de 2008. Estabelece critérios e procedimentos operacionais relativos à consignação. Brasília, 2008.
CHIAPELLO, E.; FAIRCLOUGH, N. Understanding the new management ideology: a transdisciplinary contribution from critical discourse analysis and new sociology of capitalism. Discourse & Society, v. 13, n. 2, p. 185–208.
COOPER, D. R.; SCHINDLER, P. S. Métodos de pesquisa em administração. 12. ed. São Paulo: Bookman, 2016.
DAUNT, K. L.; GREER, D. A. The dark side of marketing. Journal of Marketing Management – Special Issue, 2016.
DEBORD, G. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Geocities, 2003.
DOUGLAS, M.; ISHERWOOD, B. O mundo dos bens: para uma antropologia do consumo. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2006.
DUARTE, A. A antropologia e o estudo do consumo: revisão crítica das suas relações e possibilidades. Etnográfica, v. 14, n. 2, 2010.
FAIRCLOUGH, N. Discourse and social change. Oxford and Cambridge: Polity, 1992.
FAIRCLOUGH, N. Critical discourse analysis: the critical study of language. London: Longman, 1995.
FAIRCLOUGH, N. Discurso e mudança social. Brasília: Universidade de Brasília, 2001.
FAIRCLOUGH, N. Analysing discourse: textual analysis for social research. New York: Routledge, 2003.
Federação dos Bancários do Paraná - FEEP. 14 jun. 2017. Disponível em: http://www.feebpr.org.br/lucroban.htm. Acesso em: 27 mar. 2018.
FIRAT, A. F.; DHOLAKIA, N. The consumer culture theory movement: critique and renewal. In: SHERRY JR., J. F.; FISCHER, E. (Org.). Contemporary consumer culture theory. New York: Routledge, 2017.
FIRAT, A. F.; TADAJEWSKI, M. Critical marketing – marketing in critical condition. In: MACLARAN, P.; SAREN, M.; STERN, B.; TADAJEWSKI, M. (Org.). Handbook of marketing theory. Los Angeles: Sage, 2010. p. 127–150.
FITCHETT, J. A.; PATSIAOURAS, G.; DAVIES, A. Myth and ideology in consumer culture theory. Marketing Theory, v. 14, n. 4, p. 495–506, 2014.
GONZALEZ, L. Consumo e crédito: distorções recentes e ajustes. GV-Executivo, v. 14, n. 1, p. 30–33, 2015.
GRÖNROOS, C. Marketing: gerenciamento e serviços. Elsevier, 2009.
GRÜN, R. Decifra-me ou te devoro! As finanças e a sociedade brasileira. Mana, v. 13, n. 2, p. 381–410, 2007.
GRÜN, R. A dominação financeira no Brasil contemporâneo. Tempo Social, v. 25, n. 1, p. 179–213, 2013.
HAGENAARS, A.; VOS, K. The definition and measurement of poverty. The Journal of Human Resources, v. 23, n. 2, p. 211–221, 1988.
HIRSCHMAN, E. C. Ideology in consumer research, 1980 and 1990: a Marxist and feminist critique. Journal of Consumer Research, v. 19, p. 537–555, 1993.
JUNG, K.; GARBARINO, E.; BRILEY, D.; WYNHAUSEN, J. Blue and red voices: effects of political ideology on consumers’ complaining and disputing behavior. Journal of Consumer Research, v. 44, 2017.
KOTLER, P.; LEVY, S. J. Broadening the concept of marketing. Journal of Marketing, v. 33, p. 10–15, 1969.
LACZNIAK, G. R.; LUSCH, R. F.; MURPHY, P. E. Social marketing: its ethical dimensions. Journal of Marketing, v. 43, n. 2, p. 29–36, 1979.
LANGLEY, P. Consuming credit. Consumption Markets & Culture, v. 17, n. 5, p. 417–428, 2014.
LIPOVETSKY, G. A felicidade paradoxal: ensaio sobre a sociedade do hiperconsumo. São Paulo: Cia das Letras, 2006.
LITTWIN, A. Coerced debt: the role of consumer credit in domestic violence. California Law Review, v. 100, n. 4, p. 951–1026, 2012.
MACKAY, H. Consumption and everyday life. London: Sage, 1997.
MARTINS, T. S.; BORTOLUZZO, A. B.; LAZZARINI, S. G. Competição bancária: comparação dos comportamentos de bancos públicos e privados. Revista de Administração Contemporânea, v. 13, n. especial, p. 86–108, 2014.
MASIP, V. Gramática sucinta de português. Rio de Janeiro: LCT, 2017.
MILLER, D. Consumo como cultura material. Horizontes Antropológicos, v. 13, n. 28, p. 33–63, jul./dez. 2007.
MINAYO, M. C. S.; SOUZA, E. R. Violência e saúde como um campo interdisciplinar e de ação coletiva. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v. 4, n. 3, p. 513–531, 1998.
MORGAN, G. Paradigmas, metáforas e resolução de quebra-cabeças na teoria das organizações. In: CALDAS, M. P.; BERTERO, C. O. (Org.). Teoria das organizações. São Paulo: Atlas, 2007. p. 12–33.
OLIVEIRA, R. C. A.; AYROSA, E. A. T.; SAUERBRONN, J. F. R. Reflexões sobre segmentação, desumanização e violência. In: ENCONTRO DE MARKETING DA ANPAD – EMA, 7., 2016, Belo Horizonte. Anais... Belo Horizonte: ANPAD, 2016. p. 1–11.
OLSON, J.; RICK, S. A penny saved is a partner earned: the romantic appeal of savers. Advances in Consumer Research, v. 42, p. 151–155, 2014.
OSTERGAARD, P.; JANTZEN, C. Shifting perspectives in consumer research: from buyer behavior to consumption studies. In: BECKMANN, S.; ELLIOT, R. H. (Org.). Interpretive consumer research: paradigms, methodologies & applications. Copenhagen: CBS Press, 2000. p. 9–23.
PARKER, C.; ROPER, S.; MEDWAY, D. Back to basics in the marketing of place: the impact of litter upon place attitudes. Journal of Marketing Management, v. 31, n. 9, p. 1090–1112, 2015.
PAYNE, C. The consumer, credit and neoliberalism. Londres: Routledge, 2012.
PEREIRA, C. R.; STREHLAU, S. A dádiva na dívida: um estudo sobre o endividamento familiar. In: ENCONTRO DE MARKETING DA ANPAD – EMA, 5., 2012, Curitiba. Anais... Curitiba: ANPAD, 2012. p. 1–14.
RESENDE, V. M.; RAMALHO, V. Análise de discurso crítica. São Paulo: Contexto, 2013.
SAATCIOGLU, B.; CORUS, C. Poverty and intersectionality: a multidimensional look into the lives of the impoverished. Journal of Macromarketing, v. 34, n. 2, p. 122–132, 2014.
SANTOS, C. G.; CARRION, R. S. M. Microcrédito e pobreza: um diálogo possível? Revista de Administração Contemporânea, v. 3, especial, p. 53–67, 2009.
SCHWITTAY, A. The marketization of poverty. Current Anthropology, v. 52, n. 3, p. 71–82, 2011.
SERVA, M. Abordagem substantiva e ação comunicativa: uma complementaridade proveitosa para a teoria das organizações. Revista de Administração Pública, v. 31, n. 2, p. 108–134, 1997.
TADAJEWSKI, M. Towards a history of critical marketing studies. Journal of Marketing Management, v. 26, n. 9, p. 773–824, 2010.
VERGARA, S. C.; CALDAS, M. P. Paradigma interpretativista: a busca da superação do objetivismo. RAE – Revista de Administração de Empresas, v. 45, n. 4, p. 53–57, 2005.
VIEIRA, L. M.; BARBOSA, F. V. Microcrédito e microempreendedor: o caso do Crediamigo na região do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. Administração Pública e Gestão Social, v. 9, n. 1, p. 2–15, 2017.